segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Projeções

2012. Eu ainda existo.

Vou te contar que quando eu era criança adorava imaginar como seria o ano dois mil. Então, eu calculava que teria dezesseis anos, seria grande e estaria me preparando para entrar na universidade, no curso de jornalismo, como desejava.

Teria o meu primeiro filho aos vinte e cinco anos, conforme aquelas brincadeiras que fazia na escola (alguém se lembra?), porque com essa idade eu já estaria casada, mas depois disso eu não sabia o que aconteceria pela frente, afinal, até aí já era muito o que se pensar.

Finalmente adulta, com tudo o que carrega esse significado, saberia o que eu queria, quem eu queria, teria um trabalho, dinheiro, família, um carro grande pra caber tudo e férias no final do ano. Seria alguém que não teria que pedir permissões e não seria aquela menina baixinha da turma que sempre tinha o primeiro lugar na fila.

Hoje, com vinte e seis anos, sei que cresci, mas não sou grande, no que diz respeito a centímetros. Tenho um metro e cinquenta e sete, uma média muito razoável vai? Mas que ainda faz de mim menos do que a maioria dos outros adultos e de algumas dessas crianças corpulentas. Talvez se eu tivesse crescido um pouco mais me sentiria melhor. Talvez não.

O ano dois mil aconteceu, eu completei os dezesseis anos, entrei na faculdade no ano seguinte, fiz jornalismo, como a minha criança planejou.

Quem poderia imaginar, eu, tão sólida, tentando ficar rarefeita, permeável, escolhendo a função de investigação, na busca do sentido do próprio sentido, como se isso fizesse algum sentido. A auto-fragmentação voluntária, o olhar de criança sendo levado como premissa para a vida adulta. Por quê? Não saberia responder. Sei apenas que aconteceu o que eu não poderia prever.

Meu grande medo de quase adulta, talvez ali também pelo mesmo ano dois mil, era de um dia me acostumar, esquecer que era movida por algo que vinha de dentro e não de fora, me perder. Não queria me acomodar. Hoje, sei menos de mim do que aos sete, mas sinto que sei pouco da vida. Pelo menos da ideia que se faz dela. Vivo o desconforto de não saber se fiz as escolhas certas.

Não me casei, não tive filhos. Não sei quais são meus sonhos, mas sei bem dos pesadelos. Tenho muita esperança e nenhuma calma. Sinto o tilintar dos ponteiros, eles me assustam, tenho medo de mim mais do que dos outros. Tenho tanto que procurar que dá medo de me afogar.

A Rota

Parte 3.

Rafael observava Yasmin de longe, calado e discreto. Yasmin já havia ouvido falar de Rafael, mas sem contatos. Rafael era um cara que se entregava em paixões quando era ignorado, ou deixado pelas garotas por quem se relacionava.

Yasmin quando levava um fora, tratava logo de eliminar o cara da vida dela, sem mágoas e bola pra frente. Rafael aderia aos jogos de paixão e táticas de conquistas. Yasmin, agia com autenticidade, se gostava demonstrava, e não encarava joguinhos de sedução, era objetiva e certeira.

Ele se recuperava de um término de namoro mal sucedido, ela desacreditada em conhecer alguém interessante na cidade onde morava, achava que já conhecia muita gente, e que sempre haviam as mesmas pessoas saindo em bares e baladas, acreditava ser impossível encontrar alguém diferente e especial.

Pensando assim, ela saia com o propósito apenas de distrair, dançar e encontrar os amigos. Ele, curtia o lance invertido, de ser cortejado ao cortejar as garotas, e na maioria das situações, as garotas eram mais novas, o que fantasiavam ainda mais o desejo delas por ele.

E foi assim que a as diferenças surgiram. Para a aventureira Yasmin, aquilo era como um desafio, para o cético do Rafael, aquilo era improvável. E quem olhava ele com ela, e ela com ele, admirava!

Com ela, ele aprendeu o que antes ninguém havia ousado ensinar e dizer. Com ele, ela aprendeu que mesmo dentre tantos mistérios, ele a enxergava transparente e dizia, sem pudor, tudo o que via.

Foi então nascendo a tal da "intimidade", essencial para novas descobertas e grandes sensações. Ela intensa, ele ponderado, todas as regras eram quebradas somente entre os dois. Pronto.

Nas idas e vindas, outros personagens surgiram quebrando toda a magia deles. Os caminhos se bifurcaram, e eles traçaram outra rota.

A vida proporcionou aos dois a oportunidade e chances de maturidade sobre tudo aquilo que estavam desacostumados até então.

A maioria das pessoas podem encarar toda essa história como algo escasso, mas cada descoberta e dissernimento alimentado dessa lição será nutrido da sabedoria e do preparo para novos desafios da continuidade dessa rota que leva ao destino que pertence a cada um de nós.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Rota

Parte 2

Enfim, Yasmin despretensiosamente estava namorando e sério. Ao se dar conta já havia sido apresentada para a família do namorado, estavam frequentemente saindo, viajando e indo a faculdade juntos. Era tudo muito legal, divertido e novo. Quando digo "novo" é porque Yasmin não sabia lidar com o controle, desde cedo só sabia ser livre, então experimentar essa sensação foi muito interessante.

Passaram-se dias, semanas, meses e anos de relacionamento. Antes de concluir a faculdade houve o fim. Na época, Yasmin experimentou outra nova sensação, a do desapego. Com o desapego, veio a necessidade de readaptação de tudo; vida social e lidar com os novos sentimentos. Novos livros também vieram, assim como novas músicas, novas histórias, amizades, romances e aventuras. Ela já ingressava na carreira profissional com êxito e dedicação. E assim estava bom, estava tudo bem.

E quando menos se esperava, pois acreditava já ter conhecido todo mundo da cidade e que seria impossível conhecer alguma pessoa diferente e interessante naquele eixo, então, numa dessas festas de amigos, foi prestigiá-los como sempre fazia, acompanhada da prima, elas tinham o propósito de se distrair, sem mais.

Yasmin encontrou na festa um amigo da época de escola, que foi apaixonado por ela. Ele estava acompanhado de amigos e um deles era um ex-namorado de uma colega da sua prima, que havia namorado com ele, para fazer ciúmes para Yasmin e um ex que essa garota era apaixonada. Coincidentemente Yasmin conheceu ele naquela ocasião, após um bom tempo deste episódio.

Ficaram todos conversando numa mesma roda. Quando deu por si, Yasmin notou que ela e o garoto estavam sentados um do lado do outro, num super bate-papo legal. Foi quando percebeu que o amigo da escola estava enciumado e tentando de todas as maneiras quebrar a sintonia dos dois. Até que num instante de distração de Yasmin, ele a puxou e a beijou.

Para Yasmin aquilo tudo foi um grande engano e tratou de afastar-se do amigo da escola, deixando claro o desinteresse dela por ele. Passaram-se alguns dias e outra festa aconteceu, novamente Yasmin e a prima foram prestigiar. Desta vez, a festa estava lotada, elas encontraram uns amigos e ficaram com eles num bistrô.

Adan, um amigo todo divertido de Yasmin, adorava brincar com ela, mas era sempre desastrado e neste dia, derrubou o copo de vodka nela, eles riram a noite toda com o episódio. Numa das circuladas na festa, Yasmin esbarra naquele garoto, sim, aquele que ela conheceu na última festa, que era ex daquela garota maluquinha que tentou usar ele pra fazer ciúmes. Eles se cumprimentaram rápido.

Na febre das redes sociais, ele a encontrou na internet. Ela o adicionou. E num certo dia ela estava trocando a foto do perfil, trocava a foto por diversas vezes, indecisa. Ele então aproveitou para brincar com a situação e escreveu no perfil dela. Começaram a conversar. Ele pediu o msn dela.

A conversa no msn foi fluindo, o status dela ficava sempre como "ocupado"e o dele sempre como "online" (disponível). Ele explicou que a última vez que se encontraram na festa ele foi breve, pois havia apenas dado uma passada por lá, porque tinha que ir ao Rio. Aí ele ganhou ainda mais a atenção dela. - Rio? disse Yasmin, encantada!

Sim, ao Rio de Janeiro a trabalho, disse ele. Ela foi logo revelando sua paixão pelo Rio. Desde então, Yasmin, foi deixando a conversa fluir ainda mais, e ele logo questionou o porque do status sempre ocupado, já que ele estava adorando conversar com ela, mas sentia-se um "chato" de pensar em interromper uma garota que vive ocupada. Sempre humorado ele ganhava mais e mais a simpatia dela.

Quando se aproximou de sexta-feira, ele resolveu convidá-la para jantar e em seguida uma balada. Ela topou. Naquela noite Yasmin vestiu um tubinho branco de renda, todo delicado, com um trapézio rosa clarinho e um scarpin nude. Diferente das outras ocasiões em que pensaria sair vestida pra matar, ela quis ser o mais natural possível. Deixou os cabelos soltos, optou por uma maquiagem bem levinha e delicada. Quis se apresentar leve, natural e despretensiosa pra ele.

Ele a buscou na casa dela. No caminho para o restaurante, ele abriu o teto solar do carro e o céu estava incrível aquela noite. Muito estrelado e com a lua cheia mais linda que já havia visto. No som do carro, o cd da banda mais querida de Yasmin. Estava tudo mágico e simples, como tinha que ser. Eles gostavam das mesmas bandas, cantaram juntos algumas músicas e durante o jantar se permitiram falar de cada um e responder as perguntas e dúvidas de cada um, olho no olho, acompanhado de um delicioso vinho.

Seguindo o cronograma da noite, foram para a balada e encontraram outros amigos que surpresos, viram pela primeira vez, os dois juntos e de mãos dadas. A noite seguiu divertida e em perfeita sintonia. Tudo havia se encaixado; beijo, abraço, papo e cheiro. E agora? Tudo o que é bom a gente pede "bis". E outra vez se encotraram, e outra, e outra, e outra...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Rota

Parte 1.

A cidade interiorana foi onde escolheu nascer Yasmin. Dizem que os nossos destinos são traçados, e que nós escolhemos onde iremos viver. Pois bem, ela quis assim, porque será? Ela sorria de um jeito tão peculiar que os seus olhos se fechavam e neles se escondiam o que viria revelar o seu caminho. Foi em 1985 que ela nasceu, época em que ainda as crianças se divertiam sem muita tecnologia, e mais imaginação.

Havia sempre intensidade em tudo o que ela fazia, distribuía sorrisos por onde ia, comunicativa ao mesmo tempo um pouco tímida, ela mesmo pequena diante das demais amigas da escola, se tornava sempre a líder e pulverizava suas ideias criativas tanto para as brincadeiras, quanto para as articulações.

Cresceu na cidade do interior, porém, aberta ao mundo e as possibilidades que poderia alcançar. Conhecia com facilidade as pessoas, e as pessoas a conheciam por sua popularidade. Yasmin tem os cabelos longos, lisos, escuros, ela é magra, vaidosa, e sempre praticou atividades físicas.

Ela vinha de uma educação consciente, aprendeu a ter tudo o que queria, como também, a lidar com situações inesperadas. Os pais se separaram quando ela completou 15 anos de idade. Ela tinha facilidade em se adaptar a mudanças e também de aprender, tanto que havia iniciado muitos cursos e modalidades, como dança, teatro, línguas, esportes, música entre outros.

Do outro lado da cidade vivia Rafael, um menino um ano mais velho do que Yasmin, tímido, curioso, e estudioso, guardava com ele alguns medos e receios. Procurava alguma maneira de encontrar uma personalidade mais agressiva que o fizesse se destacar diante de todos.

Cresceu acreditando nunca ser suficientemente o que o pai dele esperava, mas também, não sabia ao certo o que tanto agradaria o seu pai ausente. Essa falta de resposta para tantas perguntas, foi afastando cada vez mais Rafael do lado família, tornando-o independente de maneira imatura e precoce.

Ele despertou interesse pela música, e na música foi construindo sua personalidade e ganhando mais visibilidade entre os amigos. Começou então a adotar dos artifícios e artigos que chamavam atenção, como piercing, tatuagens e roupas que caracterizavam sua tribo.

Atribuía suas atitudes de acordo com as referências de seus ídolos musicais, já que a referência de seu pai, como figura masculina havia deixado de existir, configurando um menino em busca de um estereótipo que o fizesse acreditar estar seguro para encarar o mundo.

Yasmin era para as amigas a opinião de importância, parecia sempre ter razão, porque passava a impressão de segura e experiente. Tinha a confiança de seus pais. Rafael era para os amigos, o garoto revoltado e passava a impressão de não ter medo de nada, e de topar qualquer experiência. Os dois tinham amigos em comum, mas ainda não haviam se cruzados.

Ela pintou mexas de cabelo na cor pink e ele pintou o cabelo inteiro de colorido. Ela dançava no teatro municipal, ele tocava com sua banda em bares. Ela curtia rock e ele também. Ela tinha fascínio por olhos azuis desde criança, ele tinha olhos azuis, e admirava meninas com cabelos lisos escuros, do jeito como era o dela. Ela buscava em cada olhar que trocava algo que ainda não havia encontrado, ele esperava pelo dia que olharia de fato dentro dos olhos de alguém por quem se apaixonaria de verdade.

Quis o destino prepará-los para o encontro?
Yasmin, tinha manias de transformações, gostava de desafios. Certa vez queria testar seu poder de persuasão, juntou-se com uma fiel amiga para vender umas bobagens, agregando valores que não existiam. Provou pra ela, para a amiga e para quem estava oferendo os produtos, de que havia com ela esse poder de persuasão de fato.

No período de colégio, liderava o grupo de meninas popular da classe, trocavam conversas sobre moda, beleza, paqueras, música e baladas, e então uma nova aluna entrou na classe, sem vaidade, tímida e distante. Yasmin acreditou ser seu novo desafio, o de torná-la mais uma integrante do grupo.

Transformou a garota, e a incluiu socialmente entre todos da escola. Ela também tinha um certo desapego aos meninos por quem a paquerava, na verdade ainda não havia despertado para o amor, eram apenas interesses provisórios, de efêmeras paixões.

Yasmin se determinou ao seu próximo desafio, o de tornar a namorada do garoto popular e mais mulherengo da escola. Ela abusou de charme, sedução e conseguiu fisgar de vez o garanhão. Mas como não era amor o que ela sentia, depois de ter sido bem sucedida na missão, ela dispensou o garoto, sem titubear.

Não costumava agir com demagogia, expressava o que sentia, dizia o que queria e fazia o que tinha vontade, portanto, achou correto terminar o namoro quando percebeu que não havia mais sentido continuar. Com isso, foi julgada por não ter coração, agir por impulso, e as amigas diziam até que o cara que a fizesse permanecer mais de três meses namorando, seria o homem da vida dela.

Yasmin é do elemento ar, preza por liberdade, gosta de imaginar, criar, vive com vulnerabilidade e adora ser leve. Rafael é do elemento terra, busca a solidez, estabilidade e segurança, gosta de ter os pés no chão. Ela é doce, ele é amargo. Ela diz, ele omite. Ela manda, ele obedece. Ela dança, ele toca. Ela sorri, ele é sério. Ela debocha, ele ironiza. Ela gosta da lua, ele também. Ela o procura, ele a encontrou.


domingo, 17 de abril de 2011

Pendurando a sapatilha

Amarram-se as cordas, para unir as sapatilhas, restavam apenas as lembranças pois elas já não serviam. Em tantas mudanças, ao desfazer de coisas, essa nunca partia. Mesmo sabendo que aquilo é apenas uma simbologia de um começo de tudo, ela preferia guardar. Sem ter o costume de guardar coisas, peças, e mimos, gostava mesmo de fotografias e textos, porque esses representavam pra ela, uma narrativa.

Quando pendurou a sapatilha, não estava pendurando a dança. Era só uma pausa de treinos e dedicações intensas, renunciadas para novas e importantes descobertas de agora em diante. Entre todo esse prazer, ela escreve, diz, expressa... linhas tortas, incoerentes, estereotipada, com lucidez assim se fez.

Nada é tão complicado, nem impossível como tentar um cambret ou um solo de derbak, muito menos o equilíbrio na ponta dos pés. Permanecer o quanto conseguir na ponta dos pés é dolorido, desgasta, mas é uma delícia, pensava ela, enquanto refletia os diversos aspéctos ainda não resolvidos na sua vida.

Sabe-se que ela ainda tem muitos propósitos, mas deixa muito claro que tudo o que fizer terá que ter ritmo, movimento e sintonia. Ela ainda quer novos desafios, quer cores, brilho nos olhos, e dançar todas etapas. Com uma vontade imensa que não tem corpo e nem nome, ela digere tudo, destituindo de sentidos até os gestos do cotidiano, como levantar da cama, começar um novo dia, todos os dias.

Mas, naquele dia não. A escolha tinha sido pendurar a sapatilha, diante daquela vontade imensa de algo que não sabia, mas que a tudo se sobrepunha, tudo o que existiria até então parecia pequeno, indigno de atenção comparado a grandiosidade dos últimos acontecimentos.

Cansadas, com pontas desgatadas, mas certas de que a missão foi cumprida, as sapatilhas agora balançam de um lado pro outro, quando a janela aberta permite que o vento entre, invada o espaço e passam por elas.  Just keep moving.

sábado, 16 de abril de 2011

Apenas sente

Coração comanda o que o corpo manifesta. Em devaneios de uma tarde cinzenta, ficava claro, que sozinha nada fazia sentido, porque ela sentia toda aquela necessidade de liberdade, dos pés flutuantes na parede, e de todo o anseio em desvendar o seu próprio universo e explorá-lo, mas se não tivesse com quem compartilhar seria um grande desperdício.

Experiências passadas deixaram claro essa teoria. E ela começou a sentir o tato dessa troca, o cheiro que agradava, o olhar que mais brilhava, até chegar as vias de fato do coração. No começo ela é resistente, depois ela manipula, aprende a articular, dissimular, trair, machucar, ferir, titubear e até amadurecer e experimentar amar.

Amar verdadeiramente não possui rótulos, nem receitas, tampouco bula. Quantos poetas ela já não tinha lido poesias, composições e rascunhões, e em cada frase tentar compreender a essência do fulano denominado: amor. Como um orgasmo, o amor é o ápice que todos desejam sentir. Como saber se é amor?

Ela teve algumas tentativas, mas não amadurecidas. Queria ela sentir o avassalador amor, comparado ao êxtase da dança. Algo que a conduzisse, fizesse o corpo inteiro sentir, absorver e transmitir, com foco em libertar-se de medos, de máscaras, com a intensidade que superasse as dores, e com grande adrenalina de viver cada segundo da música, dançando em sintonia, sem se intimidar com o público que a assistia, porque todos aplaudiriam o grande espetáculo que ela apresentaria, se livre, suave e entregue, ela dançaria.

O amor tinha que ser como a dança, cheio de encanto e reciprocidade, uma troca apaixonante. Na dança ela descobriu que quanto mais ela se entregava e sem melindres, apenas dançava, a performance era cada vez mais bonita, comovente e original. Com o amor não poderia ser diferente. Ela só deseja um amor que desperte esses reais sentidos.

Ela então compreendeu que para amar é preciso se desarmar de todas os escudos que protegem de riscos,  porque se ela não tivesse arriscado os passos, jamais teria descoberto o seu talento, e não se arriscando a admirar as noites de lua, revelar os defeitos, reconhecer as qualidades, compreender as diferenças, entender a importância de compartilhar e permitir libertar os sentimentos, jamais conhecerá o amor, esse amor verdadeiro. Sente?

Ela só quer, só pensa em dançar.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Com passo

O dia em que ela não acodou. Abriu os olhos e tudo estava diferente, o lugar não era mais o mesmo, ela não era mais a mesma. Da ponta do pé ela enxergava novos caminhos, em outros sons, mas era tudo íntimo, algo que já existia, só ainda não tinha se manifestado. Elementos passaram a ser fundamentais na expressão corporal. Lenços, movimentos, derbak e a sintonia com a mente e o ventre.

Ali, naquele instante, despertava a alma de uma nova bailarina. A dança com toda sua sutileza, ganhava extensão. De passos marcados, com passos improvisados, uma alusão ao moderno e o antigo . Ela sabia que de uma forma transcendental aquilo tudo fazia sentido permanecer nela já que a prática desta arte é milenar. De alguma maneira carregou com ela a única coisa que se leva da vida, a tal da sabedoria.

Descompassada. Sem saber pra onde iria, ou o que levaria esse resgate íntimo, ela simplismente não pensou em nada, apenas seguiu, e se deixou levar, ou se preferir, se permitiu a intensidade dessa experiência. Dedicação que levava o corpo ao limite, e cada vez mais o limite parecia não existir. Incansável, era tanta energia que não se esgotava. Chegara a hora de compartilhar. Share!

A nova saga era ainda mais surpreendente. Imagine que ela, em meio há tantas pessoas, da maneira mais peculiar encontrara a mesma façanha, tão coincidente façanha, em outra dela, um espelho dela. As semelhanças assustadoras, colocaram a prova os seus medos, os tabus, e as fraquezas. Muitos numa mesma situação, preferem fugir, o que é o caminho mais fácil, e menos doloroso. Ela não. Preferiu aceitar o desafio, enfrentou. Com isso, um novo ciclo concluiria, e como num jogo de videogame, ela havia passado para a próxima fase.